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terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Como mudamos? (parte2)

Como vimos na postagem anterior, a disposição para aprender é uma força inata no ser humano, e podemos deduzir que a propensão à mudança é algo muito presente e também natural, já que para aprender temos que mudar.  Sabemos que uma pessoa aprendeu, somente quando ela disponibiliza sua proficiência através de ações que demonstram uma mudança real nas suas formas de pensar (conhecimentos), sentir (atitudes) e fazer (comportamentos). Portanto, estamos falando do desempenho humano, e ele é a principal evidência na constatação dos processos de mudanças.
Como de fato mudamos? 
Ao analisar o processo identificamos que a mudança mais imediata que praticamos é a do conhecimento. Literalmente somos bombardeados dia e noite por uma quantidade avassaladora de informações. Essa é a marca de nossos tempos. Recebemos informações de toda natureza e origem em todos os momentos. Estamos constantemente mudando o nosso conhecimento da realidade que nos cerca. Um dos problemas críticos atualmente, ao falarmos de aprendizado, é aprender a lidar com a discriminação das informações, no sentido de apropriá-las adequadamente aos propósitos pessoais e profissionais. Esta mudança cognitiva não impõe grandes esforços, ela se dá pelo processo de percepção.
Em seguida vem uma nova etapa do processo, bastante complicada e altamente pessoal. A informação recebida (ou percebida) é trabalhada internamente e será confrontada com os nossos padrões, crenças e valores e o modelo mental vigente. Irá despertar o interesse e se transformará num motivo para a adoção de um novo comportamento, ou será rejeitado por não ter ocasionado interesse. 
Nosso cérebro é seletivo e econômico e descarta muitas informações que não se alinham com os padrões e paradigmas já instalados. Esta etapa, que apresentamos de forma bem simplificada é chamada de formação de atitude. As atitudes são as nossas escolhas, quando assumimos uma atitude nos decidimos por um curso de ação. Elas precedem o comportamento, são disposições para agir em conformidade com os valores e interesses presentes ou ainda nas suas modificações.
A outra etapa é aquela que envolve a ação. É a etapa mais evidente do processo de mudança, pois a modificação do comportamento se torna concreta. É possível ser verificada e, na grande maioria das vezes, pode ser mensurada. De fato, aqui são averiguadas as alterações que ocorreram, os novos comportamentos, o novo estado das coisas, as novas formas, etc. Nesta etapa é que são experimentadas as novas formas de agir e onde os riscos em mudar se mostram e precisam ser enfrentados.
Nesta perspectiva, vale a pena trazer as contribuições de William Bridges, consultor americano que fez uma distinção importante entre mudança e transição, ao lidar com indivíduos e organizações nas últimas décadas. Suas afirmações estão muito alinhadas com as nossas afirmativas de que para mudar é preciso que mudemos duas vezes.
Ele nos diz o seguinte: “Uma coisa é uma mudança no mundo que nos cerca, enquanto uma transição é o processo interno que atravessamos em resposta a esta mudança externa”. 
As mudanças são eventos e situações que estão ocorrendo ao nosso redor e se estivermos atentos, as percebemos e damos respostas que podem ser uma rejeição ao novo (resistência) ou um novo comportamento (adaptação). E esta adaptação será decorrente do processo de transição, altamente pessoal e único.
As transições são experiências internas que ocorrem em nossa maneira de construir o novo comportamento. Independentemente da natureza da mudança que a desencadeia, a transição segue uma processo que é conhecido e previsível. São três fases que se sobrepõem:
  1. Uma finalização, durante a qual a pessoa se desvincula da identidade anterior e rompe com a maneira como as coisas eram. Podemos traçar um paralelo com a etapa de formação de uma nova atitude que mencionamos anteriormente, uma vez percebida uma mudança no mundo exterior. 
  2. Uma zona neutra, na qual a pessoa se encontra entre duas maneiras de ser e fazer, tendo perdido a antiga, mas ainda não tendo encontrado um modo de conviver com a nova. Aqui o paralelo é com a experimentação de novas formas de agir e suas consequências, exige muita disposição e coragem, é o início do processo real de mudança do comportamento. 
  3. Um reinício, em que a pessoa passa a sentir-se novamente confortável e em equilíbrio com a nova identidade baseada nas novas condições. Nesta fase, a experimentação anterior foi bem sucedida e o novo comportamento se mostrou eficaz, atingindo os resultados esperados e, portanto, passa a ser o padrão de referência. 
 

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Aprender é mudar (parte1)

A mudança é o ato e o efeito produzido por uma alteração ocorrida em qualquer fenômeno. É uma alteração do estado constitutivo (estrutura) e da expressão (forma) de algo ou alguém no mundo. Buscando-se no dicionário encontramos que mudar significa dar outra estrutura, feição, aparência ou caráter; é tornar diferente daquilo que era, é alterar, transformar, transfigurar, converter, etc.

Entre o estado anterior e novo existe um processo de transformação que pode ser abrangente ou parcial, profundo ou superficial, contínuo ou descontínuo, provocado ou reativo, intencional ou impensado e/ou ainda realizado consciente ou inconscientemente. A mudança é mais bem compreendida quando é vista como um processo e não como um evento isolado. O que melhor sinaliza a mudança são as diferenças observadas em momentos diferentes, seja na estrutura ou na forma como ela se expressa.

Vale destacar que intimamente associado ao conceito de mudança encontramos o conceito de aprendizado. Aprender, no sentido mais usual e comum, equivale à pessoa fazer alguma coisa de um modo diferente e novo. No sentido mais abrangente significa que a pessoa modificou o seu comportamento, por conta das mudanças que ocorreram em suas atitudes, conhecimentos e habilidades. Nos dicionários, vamos encontrar também estes sentidos para aprendizado: tornar-se apto ou capaz, adquirir conhecimentos, adquirir habilidades práticas, reter na memória, vir a ter melhor compreensão (de algo) pela intuição, sensibilidade, vivência, exemplos, estudos, etc. 

Como diz Peter Senge em seu livro ‘A Quinta Disciplina - Arte, teoria e prática da organização de aprendizagem’: “A verdadeira aprendizagem está intimamente relacionada com o que significa ser humano. Por meio da aprendizagem nós nos criamos e recriamos, tornamo-nos capazes de fazer o que nunca conseguimos fazer, adquirimos uma nova visão do mundo e da nossa relação com ele, ampliamos nossa capacidade de criar, de fazer parte do processo generativo da vida. Dentro de cada um de nós há uma intensa sede por esse tipo de aprendizagem, tão arrebatadora, quanto às demais necessidades básicas de que somos portadores”.


segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Para mudar - mude duas vezes! (Parte 2)

Vamos também tomar outro marco de referência, agora mais próximo. No século passado na década de 50, um grupo de psicólogos e terapeutas americanos formou o Instituto de Pesquisas da Mente, que ficou conhecido como a Escola de Palo Alto.  Eles formularam um conceito, que nos interessa de perto, a chamada lei da mudança, que afirmava existirem dois tipos de mudança: a Mudança de Realidade e a Mudança de Percepção.

A Mudança de Realidade acontece no mundo físico. O mundo está em contínuo movimento, mas temos a tendência de ver as coisas do mesmo modo, por força dos hábitos e aprendizado. Estas mudanças no mundo real são contínuas, gradativas, seguem certo padrão, e podem ser em grande parte previsível. O mundo está em constante movimento.

A Mudança na Percepção se dá no mundo mental, é o nosso sistema particular para explicar os fenômenos do mundo. Também chamado de modelo mental ele é regido pelos nossos estereótipos, padrões e paradigmas, construídos ao longo da vida por aprendizado e experiência. As mudanças no nosso modelo mental são descontínuas, ocorrem por rupturas no conhecido, são imprevisíveis. A nossa mente é econômica, busca preservar o conhecido. As mudanças ocorrem por força da consciência ou presença de espírito.

Portanto, uma nova ideia causa turbulência no sistema. A reação mais imediata e comum é rejeitá-la. Somente quando rompemos com o nosso modo habitual de ver o mundo é que surge uma nova percepção/representação da realidade.

A mudança de percepção pode ser chamada de criatividade, ela é decorrente de um lampejo que acontece na mente iluminando algo que não fazia parte de nossa consciência e agora passa a fazer. Por termos esta nova percepção, passamos a ver o mundo com outros olhos e enxergamos coisas ou possibilidades até então não vistas e, isso, nos permite tomar ações diferentes e colocar as novas idéias no mundo, em uma palavra: inovação.

O cérebro humano é o instrumento que temos para ‘apreciar e interpretar’ o mundo e, este mundo está mudando em um ritmo muito acelerado. Ele funciona sempre na busca de padrões, é impossível para nós não estabelecer padrões, o cérebro faz isto. É preciso trazer consciência para mudar a nossa percepção, uma nova maneira de ver o mundo e ter novas ideias.

Criar um novo conceito ou olhar para algo de forma diferente são passos idênticos e estão atrelados ao que chamamos de criatividade, que surge quando trazemos ‘luz’ a nossa mente.

Achar uma nova maneira de fazer as coisas ou mudar as estruturas existentes é o que chamamos de processo de inovação, que surge das reflexões. Pensar é processar as formas, tanto as velhas como as novas.

Se quisermos mudar precisamos mudar duas vezes: temos que mudar a percepção - trazer presença e iluminação gerando criatividade; e a mudar a ação - trazer as novas formas para o mundo gerando inovação.


Nota: Grande parte deste texto foi inspirada no livro ‘O Lado Oculto da Mudança’ de Luc de Brabandere, o qual recomendo a leitura.