Para mudar a maneira de ver o mundo,
os fenômenos, as pessoas e suas relações, é preciso que você esteja disposto a
mudar o seu modelo mental onde se acham arquivados os padrões referenciais de
interpretar e dar significado à realidade que é observada. Como diz Carl G.
Jung “o mundo não existe meramente em si
mesmo, sua existência relaciona-se também à forma como ele se apresenta a mim.”
E mais ainda, acrescento eu, a minha particular maneira de interpretá-lo e
atribuir significados que promovem o sentido do que é percebido.
E aqui, talvez, resida a maior
dificuldade – mudar duas vezes. Para mudar a maneira de olhar a organização é
preciso mudar a concepção que temos de organização (o modelo mental).
As concepções podem estar ancoradas
nas velhas abordagens conceituais, reducionistas da complexidade das
organizações, que eram (e infelizmente ainda são) muito frequentes. A boa
notícia é que elas estão, cada vez mais, perdendo consistência na explicação e
orientação fornecidas pelos estudiosos e gestores em suas lidas diárias no
tratamento dos fenômenos organizacionais.
Hoje, as fronteiras do conhecimento,
antes tão bem delineadas e conhecidas, passaram a ser muito mais fluidas e
instáveis e, na medida em que se interpenetram, mostram novas ligações e
possibilidades de explicação até então desconhecidas. Existe um campo de muitas
oportunidades para aqueles que realmente querem ‘olhar com novos olhos’.
Boa parte das novas concepções e
modelos que estão surgindo já assume o novo paradigma. Como nos diz Humberto
Mariotti, no resumo didático ‘Complexidade e Pensamento Sistêmico’ de seu livro
“As Paixões do Ego: Complexidade, Política e Solidariedade”:
"A
complexidade não é um conceito teórico e sim um fato da vida. Corresponde à
multiplicidade, ao entrelaçamento e a contínua interação da infinidade de
sistemas e fenômenos que compõem o mundo natural. Os sistemas complexos estão
dentro de nós e a recíproca é verdadeira. É preciso, pois, tanto quanto
possível entendê-los para melhor conviver com eles. Não importa o quanto
tentemos, não conseguimos reduzir essa multidimensionalidade a explicações
simplistas, regras rígidas, fórmulas simplificadoras ou esquemas fechados de
ideias. A complexidade só pode ser entendida por um sistema de pensamento
aberto, abrangente e flexível – o pensamento complexo. Este configura uma nova
visão de mundo, que aceita e procura compreender as mudanças constantes do real
e não pretende negar a multiplicidade, a aleatoriedade e a incerteza, e sim
conviver com ela."
Não restam dúvidas de que as formas
tradicionais de gerenciamento não atendem as necessidades atuais dos gestores e
são eles que, nas posições de liderança e comando das organizações, têm que dar
respostas a estas demandas.
Mas cabe aqui uma constatação,
proveniente da sabedoria de todos os tempos: mudanças sempre ocorreram, a história da civilização é o relato das
mudanças trabalhadas pelo homem. Portanto, mudar é algo inerente à natureza
humana, apesar da noção comum, tão disseminada, de que as pessoas resistem às mudanças.
Costumo tratar esta frase de modo
diferente, pois acredito que as pessoas apresentam uma disposição inata para o
aprendizado e por extensão para a mudança. As
pessoas não resistem às mudanças, elas resistem à própria mudança.
Parece sutil e gramaticalmente é
mesmo, mas do ponto vista do fundamento é muito diferente. Um processo de
mudança pensado e conduzido por você mesmo e que ocorre de forma consciente é
muito diferente daquele onde você acaba sendo induzido, e muitas vezes obrigado
pelas circunstâncias, a aceitar mudanças com as quais não teve nenhum
envolvimento, participação ou contribuição com sua formatação. Você resistirá
sempre às mudanças que não estão alinhadas com seus valores, crenças e desejos
pessoais.
O que realmente estamos enfrentando em
nossos dias é a mudança de velocidade das
próprias mudanças. Você pode
constatar isto facilmente ao consultar o Google ou entrar na rede mundial. Estamos
experimentando um incremento exponencial das conquistas científicas e sua
rápida aplicação em tecnologias que são levadas ao mercado, ocasionando
impactos significativos nas formas e comportamentos em geral e, em particular, no
mundo do trabalho. A mudança tecnológica traz à cena novos artefatos e
instrumentos que impõem novas formas e cria novos hábitos nas pessoas, isto é,
novos comportamentos.
São estes novos hábitos que são
percebidos e captados pelo nosso olhar que pode ou não estar condicionado pelos
velhos e tradicionais modelos, ocasionando impactos e repercussões diferentes,
dependendo da natureza do próprio modelo mental.
No próximo post vamos finalizar o
tema.
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