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quarta-feira, 9 de outubro de 2013

TOMANDO DECISÕES - parte 3

Retomando o tema a partir de uma metáfora (ainda que mecanicista), somos uma ‘máquina de tomar decisões’. Uma parte das decisões que tomamos é muito comum. A rigor nem pensamos muito sobre elas; são quase que automáticas (do ponto de vista psicológico podem ser chamados de “menos conscientes” e, no popular, até mesmo de “inconscientes”).
Outra parte, contudo, são decisões importantes e envolvem níveis acentuados de dificuldade, com implicações que abrangem outras pessoas – família, amigos, colegas profissionais e até mesmo desconhecidos.
Como diz ‘Howard Raiffa’, no livro ‘Decisões Inteligentes’:

“A maioria de nós, sente pavor de tomar decisões difíceis. Por definição, esse tipo de decisões envolve altos riscos e graves consequências, implica numerosas e complexas considerações e nos expõe ao julgamento dos outros. A necessidade de fazer uma escolha decisiva apresenta riscos de ansiedade, confusão, dúvida, erro, arrependimento, embaraço e perda... Quando passamos pela experiência de uma decisão importante, sofremos períodos alternados de dúvida e autoconfiança exagerada, de procrastinação, de confusão, com mudanças abruptas de opinião e mesmo de desespero. Nossa inquietação com frequência nos leva à tomada de decisões precipitadas, ou demoradas demais, ou ainda arbitrárias demais. Decidimos no ‘cara ou coroa’, ou então permitimos que outra pessoa – ou mesmo que o tempo – decida por nós. O resultado: uma escolha medíocre, que depende da sorte para ter sucesso. Somente mais tarde percebemos que teria sido possível fazer escolhas mais inteligentes. Aí, é tarde demais.”


Apesar da importância da tomada de decisão na vida de cada pessoa, poucos são aqueles que foram preparados e treinados para isso. A rigor, temos poucos programas de ensino regular sobre tomada decisão, particularmente estão mais presentes no curso de graduação em Administração e nos de Pós-Graduação. Em geral, aprendemos muito mais pela própria experiência, e ela pode nos ensinar ao mesmo tempo bons e maus hábitos.
Nas abordagens de aprendizado no processo de decisão, é muito comum a ênfase dos programas estar centrada nas considerações puramente racionais, destacando os passos analíticos e metodológicos necessários para uma boa decisão. Vários autores têm dedicado atenção para estes aspectos do processo decisório, e suas abordagens destacam, com grande mérito, os componentes lógicos e analíticos da tomada de decisões. Para muito deles, a suposição subjacente é de que, se formos capazes de racionalizar o processo, potencializaríamos a qualidade dos resultados. Tudo se resumiria no aprendizado de uma técnica.
Porém, a própria experiência nos mostra que existem outros componentes no processo decisório. Os conhecimentos atuais, decorrentes dos estudos do funcionamento do cérebro humano, têm demonstrado que o processo de decisão é uma das atividades mais complexas, senão a mais complexa, com que o Ser Humano tem que lidar. Ele não é só trabalhado pela razão. Um conjunto muito grande de variáveis emocionais influencia fortemente todo o processo e, por consequência, os resultados alcançados.
Antonio R. Damásio - neurologista e autor dos livros "O Erro de Descartes" e "O Mistério da Consciência" (ambos da Editora Cia. das Letras), enfatiza que a descoberta do funcionamento da mente humana é um dos últimos limites das ciências e, nessa jornada, o principal desafio será revelar o maior dos mistérios - a consciência humana. Em suas palavras:

"O drama da condição humana advém unicamente da consciência. Obviamente, a consciência e suas revelações permitem que criemos uma vida melhor para nós mesmos e para os outros, mas o preço que pagamos por esta vida melhor é alto. Não é só o preço do risco, do perigo e da dor. É o preço de conhecer o risco, o perigo e a dor. Pior ainda: é o preço de conhecer o que é prazer e de conhecer quando ele está ausente ou é inacessível. Assim, o drama da condição humana advém da consciência porque diz respeito ao conhecimento obtido..."


Decisões conscientes, integrando elementos racionais e os impulsos criativos oriundos da intuição, mostram o caminho atual das pesquisas e do aprendizado no campo das ciências, implicando em um conjunto abrangente de novas formas e ferramentas que possam ser utilizadas pelas pessoas para enfrentar as situações do mundo em que vivemos.
A competência em tomar decisões se forma pelo equilíbrio necessário e dinâmico entre método e sensibilidade, razão e emoção, lógica e intuição. Ao longo de nossas vidas sempre nos defrontaremos com as escolhas entre os vários caminhos possíveis. Continuaremos sempre exigidos a tomar decisões.


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