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quinta-feira, 31 de outubro de 2013

UM NOVO OLHAR PARA AS ORGANIZAÇÕES

Ao longo dos últimos três séculos é inegável a evolução do conhecimento humano. As “ciências” experimentaram uma explosão nas suas formas de pesquisar e concluir sobre “novas teorias” que explicavam e explicam o homem, a vida, a natureza, o universo e todas as complexas e intricadas relações que existem entre estas entidades.
Como dizia Ilya Prigogine (*), em sua “Carta para futuras gerações”:

“Quanto mais a ciência avança, mais nos espantamos com ela. Fomos da idéia geocêntrica de um sistema solar para a heliocêntrica, e de lá para a idéia das galáxias, e, por fim, para a dos múltiplos universos... Para a ciência não existe um evento único, e isso conduziu à idéia de que múltiplos universos podem existir. Por outro lado, o homem é até agora a única criatura viva consciente do espantoso universo que o criou e que ele, por sua vez, pode alterar...”.

Trazendo esta condição para o mundo das organizações, como diz o Prof. José Júlio Martins Torres (**), em seu artigo “Teoria da complexidade aplicada às organizações”:

“Nos últimos 300 anos o paradigma mecanicista newtoniano foi dominante no entendimento da natureza e das organizações. No século XX ocorreram mudanças importantes nos conceitos científicos, começando com a Teoria Especial da Relatividade, seguida pela Mecânica Quântica, pela decodificação do DNA e culminaram com a Teoria da Complexidade que está sendo usada para entender as estruturas e processos organizacionais complexos que transcendem as teorias clássicas. O paradigma para o século XXI será orgânico.”

A primeira década deste século já passou e constatamos que muitas das previsões realizadas na passagem do século 20 para o século 21, se efetivaram, algumas outras não aconteceram e novas, que nem tinham sido cogitadas, surgiram. Estamos navegando em uma correnteza de mudanças tão intensa e veloz, que nossas certezas adquiridas duram somente o tempo de uma remada, tal qual estivéssemos praticando a modalidade rafting em esporte de aventura. Uma nova onda chega invadindo nossa atenção, sem termos tido tempo de consolidar a experiência anterior. Esse é o mundo em que vivemos da simultaneidade, das conexões instantâneas, da horizontalidade e, não raro, da superficialidade.
A máxima que predomina e comanda as disposições das pessoas é “você precisa estar conectado”. A rede é o lugar onde tudo acontece! Se precisar de mais informações busca no Google, lá você encontra! Nunca se fez tanta pesquisa, levantamentos e enquetes sobre todos os assuntos. Praticamente, todos os dias têm publicações sobre novas descobertas, uma boa parte delas e que nos interessa neste artigo, estão relacionadas às ciências administrativas e comportamentais que tem como objeto de estudo as pessoas e as organizações.
O mundo organizacional provavelmente é o ambiente mais efervescente quando se trata de mudanças que afetam os comportamentos e hábitos das pessoas nos diversos ambientes sociais em que atuam. As organizações são hoje, independentes do seu porte ou tamanho, formas jurídicas (com ou sem finalidade de lucro) e abrangência geográfica (atuação local, nacional, multinacional, mundial), as grandes responsáveis pela disseminação dos novos artefatos que viabilizam as mudanças tecnológicas, econômicas, sociais, administrativas, gerenciais e comportamentais.
Virou moda exigir que os gestores em qualquer nível da organização tenham uma “visão holística” e muitos, utilizam este termo, sem considerar a noção profunda do seu significado:

“Holismo”, proveniente da palavra grega “holos” que significa ‘total, completo, inteiro, já ocorre em você, formado no próprio’, deve ser compreendido como: uma abordagem, no campo das ciências humanas e naturais, que prioriza o entendimento integral dos fenômenos, em oposição ao procedimento analítico em que seus componentes são tomados isoladamente. Por extensão, “visão holística” significa: a busca de um entendimento integral do fenômeno que está sendo estudado (Dicionário Houaiss).

Numa linguagem mais comum podemos dizer que a abordagem “holística” pressupõe que cada componente da organização, mas em especial as pessoas, representam unidades singulares e únicas, ao mesmo tempo em que faz parte de unidades maiores - grupos, setores, departamentos, divisões, etc., também singulares e únicas, interdependentes e dinamicamente se inter-relacionando, com finalidades relativamente semelhantes e complementares, para alcançarem resultados.
Mas não podemos considerar somente a vida no trabalho com esta visão, a rigor, devemos considerar a vida como um todo dentro desta abordagem.
Olhar com “novos olhos” significa que você estudioso ou gestor, tenha realizado um processo interno pessoal de renovação do próprio “modelo mental”, ou como diziam os antigos povos arianos – passado por uma “metanóia”. Esta capacidade deve também ser integral, revigorando as três energias básicas do Ser Humano: a energia do pensar, permitindo uma mente aberta para lidar com a complexidade dos fenômenos atuais; a energia do sentir, permitindo uma empatia acolhedora das emoções, marca indelével do humano, e a energia do agir, permitindo uma ação empreendedora na construção do “novo mundo das organizações”.

(*) Ilya Prigogine cientista de origem russa, nascido em Moscou em 1917 e ganhador do Prêmio Nobel de Química em 1977, autor dos livros “O Fim das Certezas” e “A Nova Aliança”, entre outros.
(**) José Júlio Martins Torres doutorando em Psicologia na Universidade de Fortaleza - UNIFOR. Membro do Laboratório de Estudos sobre Ócio, Trabalho e Tempo Livre (OTIUM) da mesma Universidade.


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