De maneira geral o termo ‘papel’
pode designar muitas coisas. Buscando evitar entendimento inadequado e, mais
importante ainda, ações incorretas, vamos caracterizar o seu significado no
âmbito das organizações.
A palavra papel deve ser entendida no seu contexto sociológico e, neste
particular, boa parte do seu significado está relacionada às funções que lhe
são inerentes dentro de determinadas estruturas sociais (ou agrupamentos) que,
na grande maioria das vezes, já estão definidas e predeterminadas. Entendendo a
empresa como estrutura social que é planejada e organizada para uma determinada
finalidade, fica evidente que a prescrição, a compreensão e o desempenho do
‘papel’ pelas pessoas que nela atuam é de fundamental importância para o seu
funcionamento.
As principais finalidades da
definição dos papéis para a organização são:
- estabelecer uma clara divisão do trabalho, agrupando as tarefas em posições de trabalho, baseadas na lógica do processo produtivo (tanto para serviços como para produtos) que sejam capazes de ser cumpridas por uma única pessoa, numa ‘jornada de trabalho’ definida como correta pelos parâmetros legais que regulam o trabalho na sociedade;
- identificar e classificar a importância relativa das contribuições do papel para o alcance dos resultados organizacionais, com base no diferencial de complexidade e alcance que o trabalho (responsabilidade) a ele designado possa ter;
- permitir planejar e ordenar as diversas e diferentes contribuições individuais em agrupamentos lógicos e balanceados (equipes de trabalho), mantendo uma ‘determinada ordem’ entre as várias funções existentes, para que os grandes resultados da organização sejam alcançados e ela atinja sua finalidade;
- estabelecer um conjunto de requisitos básicos que permita a escolha e a preparação das pessoas mais capazes para o seu exercício, em função das capacidades e competências requeridas para o desempenho ótimo na função.
Normalmente estes papéis
ou funções são concebidos previamente e podem estar mais ou menos formalizados
e conhecidos pelos funcionários, através das descrições de cargos ou funções, mas
não é incomum eles serem tratados de maneira muito informal, com pouco rigor
metodológico e estrutural.
Outro aspecto muito importante do papel é que ele possibilita a realização
do processo de identificação entre a
pessoa e a organização, através da realização do trabalho (motivos e motivação)
e da participação nos rituais da vida organizacional (sentimento de
pertencimento). A apreensão do papel,
isto é, a compreensão do seu significado é altamente individualizada e se dá
pelo conjunto de valores e crenças pessoais.
Neste sentido, o papel assume uma dimensão distinta
daquela para o qual foi planejado e prescrito pela organização; provavelmente
tem muito mais a ver com os objetivos e necessidades pessoais dos profissionais
que o estão desempenhando.
Portanto, para uma compreensão ampla
e profunda das implicações da assimilação do papel profissional, considere os dois aspectos básicos envolvidos:
- aspecto formal: ele é prescritivo e estrutural, definido e determinado pela organização e expresso formalmente nas definições de responsabilidades, autoridades e tarefas, geralmente contidas na descrição do cargo ou função;
- aspecto pessoal: ele é desestruturado e dinâmico, depende da compreensão e interpretação que cada pessoa dá ao papel que lhe foi atribuído, com base no seu sistema pessoal de crenças e valores e, ainda, pelos resultados de seu desempenho, decorrentes do uso de suas competências e capacidades. Outros elementos da cultura da organização que não estão diretamente ligados ao trabalho que é feito, mas que regulam o ambiente onde se dá sua atuação, também influenciam esta apreensão.
Neste sentido é recomendável
entender o papel profissional como um ‘artefato’ que permite à pessoa manter
relacionamentos no ambiente de trabalho. Vale destacar aqui que o contexto
organizacional é relacional – a vida profissional é centrada nas relações que
se estabelecem com as demais pessoas neste ambiente. São pessoas que também se
encontram no desempenho de ‘papéis’
de clientes, fornecedores (internos e externos à organização), chefes, pares,
subordinados, colegas e companheiros atuantes em diversas áreas e com
diferentes papéis que ocasionarão influências nas condutas individuais.
Este relacionamento é crucial, no
sentido que as pessoas refletem para você uma percepção e, portanto, um
julgamento (que pode ser positivo ou negativo) de sua conduta e desempenho no
papel a si atribuído nesse ambiente.A questão inicial importante que
trago como um convite para sua reflexão é “como as pessoas tomam conhecimento
de seu papel nas organizações, em especial aquelas que vão desempenhar um papel
de liderança?”.
No próximo post, vamos fazer
considerações sobre este instrumento de apreensão do papel.
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