Apesar de ter como foco nesta série de textos o desempenho humano atual, acho muito útil fazer a distinção entre desempenho e potencial, ainda que sem maiores aprofundamentos conceituais.
O desempenho demonstra a capacidade real de fazer as coisas acontecerem. Ele é a expressão da capacidade atual que a pessoa possui para lidar com as complexidades e ambiguidades das situações de trabalho que lhe são atribuídas, estando sempre diretamente relacionado com os conhecimentos, habilidades e experiências do indivíduo, em outras palavras pelas suas competências. Conhecer o desempenho de uma pessoa hoje, não é garantia de fazer boas estimativas sobre o seu desempenho futuro. E por que não?
Porque o potencial de uma pessoa não está diretamente relacionado aos conhecimentos, habilidades e experiências possuídas, mas sim na capacidade ainda não revelada da pessoa lidar com situações mais complexas e ambíguas do que aquelas com as quais está lidando hoje, encontrando ‘soluções’ e escolhendo caminhos para trabalhá-las dentro de uma estimativa de tempo no futuro que pode variar muito de pessoa para pessoa.
A distinção de um trabalho de outro se dá pela complexidade envolvida em sua realização e pelo horizonte de tempo que se projeta para o alcance dos resultados esperados.
De outro lado, a distinção de uma pessoa para outra, além dos seus atributos físico-emocionais diferentes, se dá significativamente pela diferença de suas capacidades atuais, mas, principalmente, pelas suas capacidades potenciais de trabalhar emdiferentes níveis de complexidade. Existem diferenças marcantes nas capacidades das pessoas e estas têm a ver essencialmente com lidar com a incerteza e a ambiguidade.
Ter clareza da distinção entre potencial e desempenho permite tratar, de forma muito mais apropriada, as pessoas, principalmente nos ambientes organizacionais, onde o trabalho é o elemento básico que permite gerenciar esta distinção.
Todo gerente precisa ter clareza desta distinção entre potencial e desempenho, pois ele é o responsável por sustentar uma equipe de funcionários competente para dar conta dos desafios atuais e futuros em realizar o trabalho. É ele que dá direção, estimula, prepara e conduz a equipe na busca de resultados. Simplificadamente ele é o responsável por trabalho e liderança.
É bom que ele tenha consciência de que a capacidade das pessoas para o trabalho, lidando com diferentes níveis de complexidade, cresce ao longo tempo. Esta capacidade não se treina, ela cresce por um processo de maturação. Diferentemente quando estamos falando de competências, as pessoas sempre podem aprimorá-las mediante o aperfeiçoamento de seus conhecimentos, habilidades e atitudes (suas qualidades) em programas de treinamento e desenvolvimento.
Segundo Jaques Elliott (*), trabalho é diferente de tarefa. Quando você usa procedimentos conhecidos e já testados, em geral já padronizados, você está envolvido com a realização de tarefas. Em realidade, você estará exercendo julgamentos dentro de parâmetros e limites já definidos e estará também usando tudo o que já sabe (suas competências) para lidar com as situações.
Quando você se depara com situações inusitadas, sem precedentes, e precisa encontrar um caminho novo, ou fazer grandes adaptações àqueles já conhecidos, você está lidando com trabalho. O trabalho, nos diferentes graus de complexidade e incerteza sobre o tempo de sua realização no futuro, não está em percorrer os caminhos já conhecidos, mas em criar novos caminhos. Em realidade, trabalho é requerido quando você não sabe o que fazer! Neste momento é que conseguimos identificar as ‘pistas’ sobre a capacidade potencial das pessoas.
Vale a pena destacar que o potencial de uma pessoa pode ou não se concretizar, ou seja, pode ou não se converter em desempenho, pois muitos fatores poderão interferir na sua concretização, inclusive escolhas pessoais conscientes que recusem oportunidades de trabalhos com níveis de complexidade elevados.
Em tese, quanto mais avançamos no tempo, mais chances se apresentam para realização do nosso potencial, mas ele nunca é uma promessa, é tão somente uma possibilidade.
(*) Jaques estudou o Potencial Humano em organizações ao longo de pesquisas de mais de 20 anos. Diferente de algumas hipóteses que afirmam que nossa capacidade cresce, estabiliza e declina (vide algumas definições de inteligência e teorias do desenvolvimento), para Jaques nossacapacidade se desdobra e se desenvolve ao longo do tempo, através de diferentes padrões ou curvas de amadurecimento. As diferenças aparecem entre as pessoas (independentemente de sexo e raça). Nem todos nós temos a mesma capacidade, e nos diferenciamos por crescer através de diferentes padrões. Por um lado, não falamos de Potencial como algo fixo. De outro, dizemos que acapacidade difere de pessoa para pessoa. Nem todos nós temos capacidade para sermos o primeiro executivo de uma companhia! Contudo, nossa capacidade potencial será sempre maior ao longo do tempo, independentemente de escolaridade, treinamento ou MBA. A vida é suficientemente estimulante para que um organismo encontre desafios para realizar sua capacidade.
(Ver Jaques, Elliott (1992) – Requisite Organization – Cason & Hall / USA; e Jaques, Elliott (1994) – Human Capability – Cason & Hall / USA)
Nenhum comentário:
Postar um comentário