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terça-feira, 18 de novembro de 2014

CONSIDERAÇÕES SOBRE ELABORAÇÃO DE TRILHA DE APRENDIZADO EM LIDERANÇA E GESTÃO - Post 27 - Trilha de Aprendizagem em Liderança - Competências Complementares Adicionais: Clientes 3

Cliente Final é muito diferente do Cliente Interno



Esta afirmativa busca esclarecer uma diferença significativa entre estas ‘entidades’ que, de forma geral, são tratadas como muito semelhantes, principalmente quando se programam ações para lidar com clientes.

Faz parte do senso comum aceitar que os clientes internos têm os mesmos atributos e características do cliente final ou, ainda, que possuem os mesmos níveis de necessidades e/ou exigências e que, portanto, se mostrarão como eles, pelo menos no que diz respeito ao seu padrão geral de comportamentos.

Esta pressuposição carece de evidências concretas para sua aceitação e generalização em ambientes organizacionais. As relações clientes e fornecedores internos de uma organização podem e geralmente são muito diferentes daquelas que são estabelecidas entre clientes e fornecedores finais.

Uma análise mais consistente já desmistifica esta pressuposição. A rigor, apresento três aspectos que podem ser verificados na própria organização, sem necessitar da realização de uma pesquisa de campo mais exaustiva para a sua comprovação. São eles:

A Natureza do Vínculo

O Cliente Final não tem vínculos empregatícios com a empresa e, portanto, o seu julgamento de valor se mostra isento das interferências que os interesses da organização impõem (normalmente expressos no contrato de trabalho). Ele se orienta pelo seu próprio interesse (seja ele qual for), tem pleno domínio do seu processo decisório na escolha e compra de serviços e produtos. Se fizer concessões, a implicação decorrente sobre sua satisfação será somente de sua responsabilidade (mesmo que não esteja plenamente consciente disso).

O Cliente Interno está obrigado a um conjunto de direitos e obrigações estabelecidos por um contrato de trabalho explícito, que influencia sobremaneira o seu julgamento. Seus interesses e suas exigências, enquanto desempenha o papel de cliente interno, são filtrados pelos interesses e exigências organizacionais, o que leva o seu processo decisório (aceitar ou recusar um serviço / produto interno) ser influenciado por valores e crenças presentes na cultura da organização (que nem sempre são os seus). As concessões que porventura venha a fazer poderão ter consequências para outros e para si próprio, na medida em que será cobrado por seus atos.

A Natureza do Interesse

Clientes Finais quando estão se relacionando com a empresa têm por objetivo a aquisição de um produto / serviço, ou no mínimo buscam informações para definir esta aquisição, no momento presente ou quem sabe num futuro próximo. Não se vê como um profissional no desempenho de um papel, logicamente dependendo da natureza do serviço / produto (exceção para as relações business to business). Ao contrário, ele é mobilizado por uma disposição muito pessoal, que tem a ver, em última instância, com o seu próprio projeto de vida (ou motivações), nas diferentes fases da vida.

Clientes Internos sempre estarão desempenhando um papel que, a princípio, foi pensado e estruturado para cumprir determinadas finalidades. Sabe que será avaliado pelo desempenho neste papel e isto sempre trará consequências para sua vida profissional. Além disso, sempre terá de ‘prestar contas’ a uma ‘autoridade’ hierárquica e/ou funcional, maior que a sua (relação de poder), ainda que o ato não seja presenciado no momento do relacionamento entre cliente e fornecedor interno.

A Natureza do Relacionamento

Clientes Finais sabem que, qualquer que seja o profissional com está se relacionando, será um representante desta entidade abstrata chamada empresa. Portanto, ele espera que este profissional cumpra tudo aquilo que foi divulgado e prometido sobre o serviço e/ou produto, pelos diferentes canais de comunicação utilizados. Mais ainda, espera também ter atenção, presteza, cordialidade, além de rigor, acerto e informações verídicas. Tudo aquilo que for percebido como falta de informação, informações incompletas, repetições excessivas, falhas de sistemas, erros, desatenção, mau tratamento, falta de cortesia e educação, sempre afetarão o seu julgamento de valor, em qualquer ponto da cadeia de serviços, principalmente aqueles realizados pelos profissionais que tenham contato direto com ele.

Clientes Internos sabem que as relações entre clientes e fornecedores internos sempre são afetadas pelas diferenças de poder e autoridade entre eles e pelo clima organizacional existente no ambiente das relações, além das próprias condições do ambiente físico onde o trabalho é realizado. Cada pessoa na estrutura, independentemente de suas características pessoais, sempre estará desempenhando um papel e este papel influenciará sobremaneira o seu comportamento nas relações internas. Expectativas e realidade estarão atuando concomitantemente e influenciando a expressão dos comportamentos nas relações. 



Finalizando o tema Clientes, podemos concluir que, ao empreender uma jornada de desenvolvimento organizacional, onde o Cliente seja o personagem central das ações, é preciso ter em conta estes aspectos:

  • A existência da competência Foco do Cliente como parâmetro norteador e educacional para todos os funcionários. A competência deve ser um Valor, uma Atitude e um Comportamento diário no exercício das suas atribuições.

  • A Satisfação do Cliente se dá pela sua particular percepção de qualidade dos produtos e serviços prestados pela organização. Portanto, a qualidade percebida ocorre nas relações que se estabelecem entre clientes e fornecedores.

  • O valor do cliente deve estar fortemente impregnado na Cultura Organizacional, deve ser um traço marcante nos comportamentos praticados, mais do que fazer parte dos discursos, ele é verificável nas ações comuns rotineiras do dia a dia de trabalho.

  • A cultura da qualidade e, portanto, da valorização do cliente, começa internamente, nas relações entre os diversos clientes internos que são diferentes daquelas praticadas com os clientes externos. Mas estas são o grande laboratório para o aprendizado no tratamento que os clientes externos merecem.  A qualidade e a valorização do cliente começam internamente.


Acredito que a frase de Peter Block (de seu livro Gerentes Poderosos) se aplica muito bem ao contexto tratado e, com ela, finalizamos estas considerações sobre Clientes.

A vingança maior de nossos funcionários é descarregarem as mágoas e ressentimentos que sentem por nós em nossos clientes”.


Na continuidade tratarei do tema Mercado.

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