Vamos falar um pouco mais sobre os
métodos de ensino e aprendizagem, a partir das demandas impostas pelo atual
contexto do trabalho e de suas perspectivas de transformação nos próximos anos.
Li há poucos dias uma entrevista
muito interessante do filósofo
francês Pierre Lévy, um dos maiores especialistas mundiais em internet e em
culturas tecnológicas digitais e seus impactos, publicada pelo Jornal Correio
do Povo, no seu Caderno de Sábado, onde ele faz um balanço de pouco mais de
três décadas de web, a teia global, o hipertexto, a navegação na rede ao
alcance de todos.
Destaco alguns trechos que têm a ver com o assunto que
estamos tratando.
Diz ele: “a internet
se expandiu mais rapidamente do que qualquer outro sistema de comunicação na
história. No começo dos anos 1990, havia 1% da população mundial conectada. Uma
geração depois, já eram 40%. Avançamos rapidamente para 50% e mais… Estamos
apenas no começo da revolução do meio do algoritmo. Nas próximas décadas,
acompanharemos várias mutações. A computação ubíqua, que já faz parte da nossa
paisagem, vai se generalizar fazendo com que a maioria esteja permanentemente
conectada. O acesso à análise de grandes quantidades de dados, hoje nas mãos de
governos e de grandes empresas, vai se democratizar. Teremos cada vez mais
imagens de nosso funcionamento coletivo em tempo real. A educação vai se focar na formação crítica e no tratamento coletivo de
dados (grifo nosso). A esfera
pública será internacional e se organizará por nuvens semânticas nas redes
sociais. Os países passarão da forma “Estado-nação” para constelações de
Estado, com um território soberano e uma zona desterritorializada na infosfera
de conexão total. As criptomoedas, moedas digitais criptografadas, vão se
disseminar. Sentiremos cada vez mais, de agora em diante, a consequência disso
tudo em nossas vidas cotidianas. Depois do surgimento da web, na metade dos
anos 1990, não houve grande mutação técnica, somente uma profusão de pequenas
evoluções e progressos. No plano sociopolítico, o grande salto me parece ser a
passagem de uma esfera pública dominada pelos jornais, pelo rádio e pela
televisão para uma esfera pública centrada nas “wikis”, nos blogs, nas redes
sociais e nos sistemas de moderação de conteúdos onde todo mundo pode se
exprimir. Isso significa o começo do fim do monopólio intelectual dos
jornalistas, dos editores, dos políticos e dos professores. Um novo equilíbrio
ainda não foi alcançado, mas o velho sistema dominante está em franca erosão”.
E
mais especificamente sobre as oportunidades de aprendizagem em sistemas de
cooperação: “Falo em inteligência
coletiva para enfatizar e estimular o aumento das capacidades cognitivas em
geral, sem fazer juízo de valor. Refiro-me ao aumento da memória coletiva, ao
crescimento das possibilidades de gestão e de criação de redes e das oportunidades de aprendizagem em
sistemas de cooperação, com acesso universal a informações e dados” (grifo
nosso).
“Acredito que esse aspecto é inegável e que todos
os atores intelectuais e sociais responsáveis deveriam utilizar essas novas
possibilidades na educação, na gestão do conhecimento, nas empresas e nas
deliberações políticas democráticas (grifo nosso). É preciso inserir a
internet na longa série que passa pela invenção da escrita e do impresso”.
Estas profundas transformações que estão ocorrendo na
sociedade pedem novas formas - métodos - de lidar com o ensino e a
aprendizagem. As tradicionais maneiras de ensinar e aprender ainda predominam
nas instituições voltadas à educação, tanto de crianças como de adultos. Mas já
vemos os sinais do novo método chegando e, muito provavelmente, daqui a alguns
anos predominando no cenário.
A expertise
em aprender é tão importante que um grupo de estudiosos de vários países
sugeriu a criação de uma nova área de estudo, a Heutagogia. A grande distinção
feita por Knowles entre o aprendizado do adulto e o aprendizado da criança sem
dúvida foi um marco fundamental no contexto da educação executiva (T&D).
Mas outra grande transformação no ambiente está acontecendo. A disponibilidade e rapidez com que temos
acesso à informação impõe a necessidade de habilitar os profissionais com meios
e conteúdos para questionar e produzir conteúdos sem restrições e de maneira
livre e responsável. A Heutagogia, apropriando-se dos conceitos da Pedagogia e
da Andragogia, vai além, buscando estruturar uma forma das pessoas “aprenderem
a aprender”, um desejo já presente nas ideias que formataram a jovem/velha
Andragogia.
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